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ACERVAMENTO, UMA QUESTÃO DE INTELIGÊNCIA*

 

              Por Antonio Miranda
                 (professor emérito da Universidade de Brasília)

 

        O professor Bjorn Tell, criador dos serviços de informação tecnológica dos países escandinavos acaba de publicar um polêmico artigo em que divide as bibliotecas do mundo em duas categorias: as “tradicionais” (supostamente a maioria) e as “inteligentes”, que facilitam o acesso de seus usuários às bases de dados bibliográficas, textuais e numéricas, buscando informações em redes e sistemas internacionais. E foi mais longe, dividindo os países entre os ditos “desenvolvidos”, que já acumularam informações úteis para garantir a sua eficácia, e os “outros”, entre os quais o Brasil, que não desenvolvem bases de dados informacionais sequer para a sua própria sobrevivência.

        Não é bem assim, no caso do Brasil, país em desenvolvimento industrial e tecnológico intermediário.  Nós já temos uma expressiva indústria de bases de dados, atualizando-se constantemente, mas o seu acesso continua restrito aos usuários institucionais ou periféricos, não obstante os altos custos de sua produção.

        Quando eu (Antonio Miranda) era Diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia — IBICT, um órgão do CNPq/MCT, no início do governo Collor, tentamos a organização de uma “base de base de dados” da Administração Federal, juntamente com a SAF. Pretendíamos cadastrar as centenas de bases de dados desenvolvidas nos ministérios e autarquias, visando a que viessem a ser acessíveis, em linha, em conjunto, através de um Sistema Público de Acesso a Bases de Dados**

        Informações sobre leis, patentes, teses universitárias, eventos científicos, jurisprudência, resultados de pesquisas, preços, variações climáticas, produção literária e artística, indicadores econômicos, instituições, especialistas, desenvolvimentos tecnológicos em curso, cursos e treinamentos , inclusive à distância, dados demográficos, enfim, insumos fundamentais para nossos pesquisadores, administradores, políticos, e para a cidadania em geral, estão acumulados mas muitas vezes ignorados para uso e consulta! E, à falta de mecanismos de recuperação de informações adequados, vamos busca-los nos países desenvolvidos, em operações caras e complexas, algumas vez também necessárias e justificáveis.

        E o que é pior: por desconhecimento dessas bases estanques estamos deixando de consultar nossos relatórios de pesquisas, —muitos deles produzidos com recursos públicos —, as revistas científicas nacionais e estrangeiras — algumas adquiridas a custos elevados para uso segregado —, os documentos de nossos arquivos que não são legalmente invioláveis, os dados de nossos institutos especializados, na hora de formular parecer, de assessorar autoridades, de formular problemas e buscar soluções.

        Mas o projeto em questão, apesar de já contar com um formato próprio para o cadastramento e pessoal devidamente treinado, em forma piloto e até extensivamente, foi logo abandonado, afundou em crise institucional.

        Os Estados Unidos da América — um exemplo sempre recorrível... — só conseguiu sair do marasmo, ou do choque ao constatar a supremacia da União Soviética na corrida espacial, nos idos dos anos 60,***investindo maciçamente em educação e pesquisa em ciência e tecnologia, assim como no acervo de suas bibliotecas. (Para citar um só exemplo, a biblioteca da UCLA (California), tem mais livros que quase todas as 400 bibliotecas universitárias brasileira, em conjunto, da atualidade.)

        Nas décadas seguintes aportaram na automação e na geração de bases de dados, e agora aceleram os processos de integração de acervos em redes cooperativa, a nível planetário, para atender à demanda de seus usuários dos setores governamentais e da iniciativa privada.(****)

        E o Brasil, vai continuar apostando em bibliotecas tracionais, como denunciou Bjorn Tell, e na produção de bases de dados para uso exclusivo de privilegiados? Ou vamos optar por uma verdadeira “indústria da informação”, em que os nossos estoques sejam acessados por mais usuários, como forma de justificar os custos e propicia o nosso desenvolvimento? Apostando nas versões impressa, magnéticas ou digitalizadas. Em suma, cada vez há menos o que oferecer em comparação com a demanda potencial.

        Mais que uma questão de bom senso, a ideia da democratização do acesso a tais dados, parecer ser uma questão de “inteligência”. É óbvio que o país necessita modernizar os seus processos de comunicação interinstitucionais, mas corre-se o risco de criar uma “transamazônica” da informação, ligando nada com coisa nenhuma — perdoem a metáfora exacerbada —., ou seja, entre instituições que buscam estoques de informação onde eles não existem mais, corroídos pelo obsoletismo crescente de seus acervos (embora possam ser preservados com a devida classificação). 

        Basta visitar as nossas bibliotecas universitárias, para vermos a sua atual decadência,***** quando poucas ainda mantêm programas de aquisição de obras, mesmo sendo sobrecarregadas de pedidos dos mais carentes.

        As bibliotecas, não raras vezes, reúnem obras de forma caprichosa, aleatória e extemporânea, quando não dependem apenas de doações...  Caprichosa porque atendem a vontades de determinados grupos e indivíduos, a determinadas área de atuação e especialidade, conforme as simpatias e pressões exercidas no processo de seleção.  Aleatória porque a seleção é fruto do acaso, dependendo da oportunidade, da oferta, da demanda privilegiada, de fatores alheios a qualquer cientificidade.  E extemporânea porque não chega a constituir uma rotina programada, acumulativa, que vá sedimentando, em cada etapa, um acervo equilibrado e adequado à instituição que mantém a biblioteca, ou seja, a aquisição é feita de tempos, na oportunidade de recursos financeiros inconstantes, com critérios de momento, não raras vezes sem critério algum.

        É possível fazer um estudo científico das “políticas” vigoraram no processo de desenvolvimento de acervos em bibliotecas, se estas conservaram, para os efeitos administrativos, dados de “tombamento” do patrimônio, conforme exige a legislação. Se tais estudos fossem feitos, seria possível detectar que fatores influenciaram, em diferentes oportunidade, o crescimento do aceso, que grupos privilegiou, que tipos de materiais foram considerados prioritários e até propor causas, consequências , justificativas ou críticas relativas ao processo decisório

        Um bom administrador do setor de Seleção e Aquisição não só deve conhecer tais peculiaridade de sua coleção, como ter respostas. E ações progressivas. 

 

MIRANDA, Antonio. Acervamento, uma questão de inteligência. In Portal de Poesia Iberoamericana, Ano 17, No. 66, 2021.  Seção Ciência da Informação- Ensaios. ISSN 2447-1178. 

 

*Comentário adicional, atual: Para que os dados não circulassem apenas de forma extensiva, ou seja, internetizados, com acesso universal, mas permitisse sua “imersividade”, a possibilidade de inter-relacionamentos, atualizações e até contestações por um público aberto e responsável, sujeito ao acompanhamento e intervenção do público usuário. Inclusive valendo-se dos recursos da animaverbivocovisualidade – AV3, não apenas de forma estática, mas também dinâmica e relacional.
*** Na época o governo fomentou a abertura do sistema educacional para especialistas estrangeiros em maior escala, o aprendizado de outra línguas com potencial para a ampliação de acesso aos repositórios estrangeiros. Agora, no século XXI enfrentam o desenvolvimento acelerado da China, com políticas restritivas de acesso ao público externo, por razões de competividade e valores ideológicos.
(****) Devemos também ressaltar a criação, pela iniciativa privada, de repositórios mundiais de publicação de obras científicas e literárias, transformados em e-books, livros impressos por demanda, e até o uso em bibliotecas e por usuários a preços acessíveis e até gratuitos, como é o caso da Amazon.com nos tempos atuais, numa escala inimaginável!

***** Mas notória e vivencial no período atual da pandemia da Covid19, em que muitas bibliotecas estão fechadas para o público e os serviços “em linha” são limitados. 


 

 

 
 
 
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